O movimento de Fábio Ramalho e a tentativa de justificar o injustificável


Após a repercussão do artigo publicado por este Blog, o deputado estadual Fábio Ramalho entrou em contato com esta editora para tentar justificar seu movimento político em apoio ao adversário direto do senador Veneziano Vital do Rêgo. Segundo Fábio, sua decisão não fragilizaria Veneziano, mas sim o governador João Azevêdo. É exatamente aí que sua explicação perde sustentação: João Azevêdo possui densidade, conceito e capital político amplamente reconhecido. Nabor Wanderley, por sua vez, não possui o mesmo alcance eleitoral nem a mesma força de opinião pública. 

A tentativa de transferir o impacto de sua articulação para o governador, portanto, não encontra lógica nem respaldo na realidade. A conta não fecha e a justificativa não se sustenta, ela apenas expõe a fragilidade do argumento e evidencia o caráter personalista do movimento.

Durante a conversa, o deputado ainda reforçou que não poderia atuar plenamente em favor de municípios como Lagoa Seca, Areial, Massaranduba e São Sebastião de Lagoa de Roça sem a ajuda e sem as emendas de Hugo Motta e do pai dele, Nabor Wanderley. Essa explicação, além de politicamente inconsistente, contraria fatos concretos. Lagoa Seca, por exemplo, recebeu um dos maiores volumes de investimentos de sua história graças às emendas e articulações do Senador Veneziano Vital do Rêgo e Romero Rodrigues, que também fez parte desse movimento, ambos do próprio grupo político de Fábio. Afirmar agora que só pode trabalhar se estiver sob o guarda-chuva de Nabor e Hugo coloca em dúvida o valor do alinhamento que sempre disse seguir. E mais: confirma que sua movimentação fortalece diretamente o principal concorrente de Veneziano.

A situação fica ainda mais evidente quando analisamos o comportamento natural do eleitorado. E quem já escolheu João Azevêdo para o primeiro voto e teria como opção natural para o segundo voto o nome de Veneziano? Se, por influência do deputado e dos prefeitos alinhados a ele, esse eleitor agora migrar o voto para Nabor, isso prejudica João Azevêdo? Evidentemente não. Prejudica Veneziano única e exclusivamente. A própria realidade desmonta a tese apresentada pelo deputado. O argumento de que sua decisão fragilizaria João e não Veneziano é simplesmente incompatível com a lógica eleitoral e com o comportamento histórico da base de João Azevêdo. A justificativa, portanto, cai por terra. E cai por peso próprio.

Esse tipo de movimento político lembra, inclusive, um episódio recente que a Paraíba conhece bem. Nas últimas eleições onde duas vagas estavam em aberto ao Senado, o ex-senador Cássio Cunha Lima entrou na disputa como favorito absoluto, liderando pesquisas com folga, com uma reeleição que parecia garantida. Perdeu por uma sucessão de movimentos internos, traições silenciosas e articulações paralelas que, à época, também foram tratadas como “naturais”. O gesto de Fábio Ramalho tem semelhanças muito claras com aquele contexto. O início é sempre silencioso, aparentemente neutro; o efeito, quando amadurece, costuma ser devastador. Estamos apenas assistindo aos primeiros movimentos de um possível desastre político que nasce dentro do próprio grupo e tudo isso, aparentemente, à revelia de quem mais trabalhou por esses municípios, o senador Veneziano e que agora seus aliados vêem o impacto cair como uma bomba em sua base.

Outro elemento não passou despercebido. Talvez por perceber a movimentação subterrânea construída por aliados que sempre estiveram sob sua órbita, soube que Veneziano não compareceu à festa promovida pela prefeita Michelle Ramalho em Lagoa Seca. Michelle, sucessora política direta de Fábio e fiel seguidora das diretrizes dele, conduz o município sob o crivo e a marcação do padrinho. A ausência de Veneziano, portanto, não deve ter sido acaso: pode ter sido um recado silencioso, mas extremamente claro, de que há ruído grave no alinhamento político do grupo.

Quando questionado se desejaria apresentar um direito de resposta a este Blog, o deputado optou pelo silêncio. Um silêncio que, no contexto político, fala muito. Se a justificativa fosse sólida, seria apresentada. Se a decisão fosse realmente coletiva, seria defendida. O silêncio, nesse caso, apenas reforça o desconforto gerado pelo próprio gesto.

E para completar, o deputado ainda quis saber se alguém teria pedido a editora deste Blog que escrevesse sobre o assunto. Repito: tenho identidade política, visão crítica e independência editorial. Não sigo ordens, não recebo orientações e não escrevo por encomenda. Escrevo porque observo, analiso e interpreto o cenário político e tenho liberdade de expressão para fazê-lo e farei isso sempre que julgar necessário.

Fica, portanto, uma recomendação sincera: antes de romper com a coerência natural do grupo que sempre o apoiou politicamente, talvez fosse prudente conhecer de perto os currículos e o histórico daqueles que hoje decide apoiar. A boa política exige mais que movimentos oportunos, exige responsabilidade com o coletivo. E o movimento feito pelo deputado, pela forma como foi articulado e pelas consequências que já provoca, tem cara, forma e impacto de projeto pessoal. Não de compromisso com o grupo que o apoiou até aqui.

Os próximos capítulos dirão o quanto e como esse movimento se desdobrará. Mas um fato já está claro: a política paraibana já viu esse filme antes. E o final, quando começa com tamanha incoerência, costuma ser tão turbulento quanto previsível.



Por Simone Duarte


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