João responde a Cícero e acaba ensinando a Fábio

A política costuma oferecer lições inesperadas, algumas tão claras que dispensam esforço de interpretação. Foi exatamente isso que aconteceu nesta segunda-feira (08), quando João Azevêdo rebateu as acusações do prefeito de João Pessoa, Cícero Lucena, sobre suposta “compra de consciência” do deputado Felipe Leitão.

Ao responder, João entregou, sem querer, uma aula pública sobre coerência política. E, no processo, acabou dando uma lição direta, ainda que involuntária, para Fábio Ramalho.

Ao ser questionado sobre nomeações no governo, João foi cirúrgico: “Gestão se faz com aliado. Você nomeia aliado. Você vai nomear adversário?”

A frase, dita para responder a Cícero, virou também um espelho incômodo para o movimento recente de Fábio Ramalho neste final de semana. Enquanto João reforça, com simplicidade, que a política se organiza em torno de alianças claras, coerência ideológica e unidade interna, Fábio caminha no sentido inverso e apresenta adversários como parceiros estratégicos e tenta explicar o inexplicável usando a narrativa da “amplitude”.

Mas amplitude não é ausência de critério. E muito menos significa levar adversários diretos para o palanque de quem é seu aliado. Enquanto isso, pergunto: Por que Veneziano não se fez presente nesse leque da tão malfada “amplitude”? Será que o senador, por ora aliado, estava com outras agendas ou não se sentiu à vontade de se fazer presente nesse “leque de amplitude estratégica”? Será que ele foi convidado? Fiquei curiosa! Ou tudo realmente ocorreu à revelia do senador emedebista? Isso só ele(s) pode(m) responder.

João, que tem Nabor em sua base e possui capital político consolidado, não sofre arranhões no movimento feito por Fábio, repito. Já Veneziano, aliado de Fábio, sente o impacto imediato. Não porque João seria fragilizado, como tentou justificar Fábio, mas porque é Veneziano quem disputa votos exatamente nos territórios onde Nabor foi empurrado para o centro da cena por Fábio.

É aí que as duas situações se encontram: Enquanto João reafirma que governar pressupõe coerência com aliados, Fábio “inova” ao pregar amplitude sem alinhamento, sem aviso e provavelmente à revelia de um aliado.

No xadrez político, amplitude só funciona quando nasce de diálogo real, não de improviso, não à revelia de aliados. Amplitude em um arco de alianças só funciona quando constrói pontes e não quando expõe aliados e abre fendas ou rachaduras. Amplitude só funciona quando soma, não quando subtrai e desorganiza o meio de campo.

A resposta de João a Cícero explicita algo óbvio para qualquer analista político experiente ou não: aliança não é peça decorativa, é eixo. E eixo quebrado vira ruído, desgaste e perda de território.

Por isso a lição de João para Fábio: Política se faz com aliados, não com adversários e menos ainda com surpresas. Quando a pretensão é coletiva e estratégia, projeto pessoal inexiste e narrativas frágeis não se sustentam. Articulação se faz com alinhamentos claros, não com movimentos que confundem.

Se a intenção de Fábio era mostrar força, acabou mostrando desconforto. Se a intenção era amplitude, o efeito foi o oposto, ou seja, redução do espaço de quem o apoia e fortalecimento de quem já tinha base.

João respondeu a Cícero, mas quem deveria ter escutado com atenção era Fábio.

No fim, tentam vender a narrativa de que Fábio “prova, a cada gesto, que liderar é articular, não gritar”. Mas articulação não é colocar adversários no colo sem alinhar com aliados. Liderança não é romper o eixo e chamar de amplitude. E diálogo não é surpresa é construção.

A Paraíba realmente precisa de líderes que articulem sem gritar. Mas articulem com coerência, com estratégia e com responsabilidade política. Porque, no fim das contas, não é o tom da voz ou a heterogeneidade que define um líder é a qualidade das escolhas que ele faz.


Por Simone Duarte



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