Quem vive do Estado não quer o povo caminhando com o pé direito
O comercial estrelado por Fernanda Torres tenta vender leveza, ironia e modernidade, mas acaba expondo a engrenagem que mantém de pé uma elite política, financeira e cultural sustentada pelo bolso do contribuinte brasileiro.
Ao afirmar que não deseja que o brasileiro comece 2026 com o “pé direito”, a atriz fala mais do que uma provocação publicitária. A frase traduz um modelo de país em que prosperidade popular é ameaça, não objetivo. Afinal, quando o povo caminha com autonomia, consciência e renda, o sistema de privilégios começa a ranger.
Por trás da propaganda está uma marca cuja história empresarial passa longe da inocência vendida no vídeo. A fabricante das sandálias já pertenceu ao grupo Camargo Corrêa, uma das grandes empreiteiras envolvidas nos escândalos revelados pela Operação Lava Jato. Seu então presidente, Dalton Avancini, foi condenado e posteriormente beneficiado por acordo de delação premiada, cumprindo pena em regime domiciliar.
Em meio às investigações, a empresa foi vendida à JBS, gigante do setor de proteína animal, grupo que, como é amplamente conhecido, cresceu amparado por generosos financiamentos públicos via BNDES, além de acordos de leniência e delações que redesenharam seu destino empresarial. Ou seja: a compra ocorreu com dinheiro que saiu do seu e do meu bolso.
A história não para aí. Anos depois, a JBS revendeu a empresa para um consórcio liderado por banqueiros, incluindo o Itaú, por um valor cerca de um bilhão de reais maior do que o pago na aquisição. Um negócio extremamente lucrativo, típico de um socialismo de compadrio em que poucos ganham muito.
Defensores do sistema costumam argumentar que o Itaú é uma instituição privada e pode investir como quiser. É verdade. Mas também é verdade que o banco se beneficia, historicamente, de renegociações fiscais, parcelamentos especiais e perdões bilionários de dívidas junto à Receita Federal, vantagens jamais estendidas ao cidadão comum. Ninguém perdoa o IPTU do trabalhador. Ninguém esquece o IPVA do pequeno empreendedor. A Receita não negocia com quem vive de salário.
Esse é o ponto central que a propaganda tenta esconder sob ironia: existe um Brasil blindado, onde erros viram acordos, dívidas viram negociações e crimes viram “excessos do passado”. E existe o Brasil real, onde o pé direito segue firme apenas para continuar sustentando tudo isso.
É nesse contexto que surge a artista engajada, confortável, protegida por contratos, patrocínios e incentivos culturais, ironizando quem paga a conta: NÓS! Uma esquerda de verniz social, que fala em povo, mas vive acima dele e graças a ele.
O pé esquerdo deles está sempre na jaca porque há colchões de privilégios, dinheiro público reciclado em grandes negócios e uma simbiose doentia entre Estado, bancos, empreiteiras e uma elite cultural militante. Já o pé direito do povo segue no chão duro da realidade, sustentando essa engrenagem inteira de parasitas que se retroalimentam da miséria que dizem combater.
Talvez o maior medo dessa turma seja simples: um país em que o trabalhador comece a andar com os dois pés fincados na realidade, sem romantizar a pobreza, sem aplaudir slogans vazios e sem aceitar ser tratado como massa de manobra.
Porque quando o povo anda com firmeza e com o pé direito, o sistema treme. E é exatamente por isso que eles torcem para que você continue tropeçando.
Por Simone Duarte


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