Em situações de tragédia, costuma-se esperar que o debate público se concentre no essencial: o que aconteceu, por que aconteceu e o que está sendo feito para reparar e evitar que se repita. Mas, curiosamente, diante do rompimento do reservatório da Cagepa, que deixou uma família em luto e ruas inteiras devastadas, algumas análises decidiram se ocupar de algo bastante particular: o cabelo e a jaqueta do secretário da Sesuma que esteve trabalhando no local com sua equipe desde as primeiras horas após a tragédia anunciada.
Enquanto moradores tentavam processar o impacto da água arrastando vidas e histórias, e enquanto equipes se organizavam para atuar na área afetada, houve quem escolhesse concentrar sua energia na estética de quem estava lá. Um foco, digamos, curioso diante do tamanho da tragédia. E ainda mais curioso vindo de quem não esteve presente, observando tudo por telas, ângulos e fragmentos de vídeos que circulam nas redes. O chão molhado, pesado de lama e dor, não se sente através de play e pausas.
Ao contrário do que certas opiniões tentam sugerir, o que se viu desde as primeiras horas foi trabalho. Trabalho de verdade, aquele que exige bota, água até o tornozelo, braço, paciência, organização e gente. A Defesa Civil atuando na análise dos riscos e na segurança do entorno. A Semas apoiando moradores afetados, prestando atendimento. A Guarda Municipal organizando o fluxo, garantindo proteção para quem ainda tentava salvar o que restou. A Polícia Militar contribuindo na contenção, na preservação da área e na segurança geral. E a Sesuma, que permaneceu no local até às 20h, lavando ruas, retirando entulho, abrindo passagem, para que no mínimo o bairro pudesse respirar de novo.
Foram muitas secretarias trabalhando de forma integrada, sem pausa, sem intervalo para gravação de discursos ou ensaios de emoções. Trabalho silencioso, constante e que, quase sempre, nem aparece. Mas há quem prefira ver espetáculo onde só houve esforço.
E é fácil, de longe, apontar o detalhe, o enquadramento, o penteado. Difícil é estar onde a sirene toca, onde o rosto do morador pesa mais do que qualquer retórica. Difícil é explicar por que um reservatório rompe dessa forma. Difícil é lidar com a responsabilidade técnica real. Talvez por isso alguns escolham o caminho mais confortável de transformar dor em crítica de figurino.
Enquanto moradores tentavam entender o que restou da própria vida, enquanto a água arrastava histórias, móveis, fotos e memórias, houve quem decidiu centralizar o debate na estética de quem estava atuando na linha de frente. Uma escolha curiosa para quem se apresenta como defensor da “sensibilidade pública”.
Minha solidariedade e respeito ao secretário da Sesuma, Dorgival Vilar, por sua liderança e trabalho após a tragédia. Na próxima, quem sabe, se você for sem jaqueta, descabelado e sem óculos, não consiga fugir dos holofotes daqueles que preferem inventar narrativas a olhar de frente o real foco da tragédia.
Não basta a admiração pelo prefeito e sua cabeleira, agora entra na mira, o secretário da Sesuma, que diga-se de passagem é um gestor técnico e um dos melhores a atuar à frente da Sesuma em Campina Grande nos últimos tempos.
Vale o destaque de algumas fotos do que realmente importa!
Por Simone Duarte


















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