A imprensa trumbicou!

Por Renato Cunha Lima Filho


O fantástico Honoré de Balzac, múltiplo escritor francês do século 18,  também jornalista, que escreveu com acidez entrelaçadas em suas várias obras, críticas destiladas ao próprio jornalismo, voltou hoje, com tudo que ocorre na imprensa mundial e brasileira, a ser uma leitura essencial para quem tem a ousadia de ir contra a maré, contra as narrativas dominantes da velha mídia.  

Em “Os jornalistas” que é uma obra construída a partir de duas outras, “Monografia da imprensa parisiense” e “Os salões literários”, Balzac sapecou a antológica frase: “Se a imprensa não existisse, seria preciso não inventá-la”, profetizou.  

Em sua relação de amor e ódio com a imprensa, Balzac foi enfático:  “A imprensa não é tão livre quanto o público imagina. Na França e no estrangeiro, segundo esta expressão liberdade de imprensa. Há fatos impossíveis de serem contados e cautelas necessárias com os fatos de que falamos. Assim, o jesuitismo, tão estigmatizado com Pascal, era menos hipócrita que o da imprensa. Para sua vergonha, a imprensa só é livre frente aos fracos e às pessoas idosas.”

Segundo Balzac, todo jornalista é corrupto ou foi tentado a ser. Desde sempre a “verdade” foi uma condição relativa dos fatos e a imprensa o seu juiz, mas isso vem mudando.

A imprensa não é mais a proprietária da verdade, hoje todo cidadão com um “smartphone” apresenta sua verdade para seus seguidores.  A concorrência 

com as redes sociais foram de fato uma revolução, uma quebra de paradigma na comunicação. 

Na rebordosa, a imprensa reagiu com o termo pejorativo “FakeNews”, para atacar as redes sociais, como se a imprensa não manipulasse, distorcesse, enganasse e mentisse sobre fatos e suas interpretações.  

Muitas vezes, não poucas, mais fácil encontrar a verdade, pela real pluralidade de visões nas redes socais, que na grande mídia, que é repleta de interesses próprios, muitas vezes não públicos e coletivos.  

Uma FakeNews, assim como dizia a vovó, assim como toda mentira, tem as pernas curtas e serão desmascaradas, mais cedo ou mais tarde, ainda mais agora onde é possível contesta-la, graças as redes sociais. 

O problema está nas narrativas, sempre elas, esculpindo “verdades” de acordo com os interesses, agora quem ganha com a mentira e a distorção nas narrativas, o desinformado ou desatento da rede social ou o jornalista de uma grande mídia? Acho  que é aquele que é pago para mentir, ou não? 

Para resgatar a credibilidade, a velha imprensa passou a se autointitular de “imprensa profissional” e qualquer jornalista que não pertença ao “estabelichment” da comunicação, ganha a alcunha de blogueiro, numa demonstração de arrogância típica, de quem perdeu audiência, credibilidade e confiança.  

Hoje canais de YouTube, dos chamados jornalistas independentes, tem mais telespectadores que os canais da velha e tradicional imprensa, em que pese todo o tipo de ataques e tentativas de censura.  

A promiscuidade da velha imprensa com o poder, com o Estado, destacado ao longo dos séculos e  com maestria descrita por Balzac no romance “Ilusões Perdidas”, me faz concluir que as redações dos jornais sempre foram, salvo exceções,  o real “gabinete do ódio” e não as difusas redes sociais.

Com o direito de espernear, a velha imprensa tenta desumanizar as redes sociais, atribuindo postagens e suas disseminações a robôs e perfis falsos, o que de fato existe, mas de longe compreendem a avalanche de milhões de humanos que se interagem nas redes sociais, de forma orgânica e plural, para o desespero dos ex-proprietários da verdade. 

Assim como Balzac, quem também acertou em cheio foi velho guerreiro, nosso inesquecível Chacrinha, o saudoso Abelardo Barbosa, quando disse e profetizou: “Quem não se comunica, se trumbica.” 

— E olhando bem, a velha imprensa trumbicou e que seja bem vinda a nova comunicação.

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