Morrer sem oxigênio em Manaus, a tragédia que escancara a negligência política na pandemia

 


“É difícil você ter que escolher quais pacientes devem receber oxigênio suplementar. Os que têm mais chances.” O relato é de um médico do Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV), em Manaus, um dos epicentros da crise sem precedentes que escala na capital do Amazonas. A cidade registrou ao menos duas mortes nesta quinta-feira por causa da falta de oxigênio nas unidades de saúde colapsadas pelo aumento das internações por covid-19 ―mas os números são incertos e vários relatos davam conta de que o total de vítimas que morreu sem ar pode ser maior. As cenas de desespero das equipes médicas e de parentes ao redor dos centros de atendimento se multiplicaram, numa situação que é crítica e não têm solução imediata, admitem agora as autoridades do Estado e do Governo federal, depois de meses de negligência com o avanço da pandemia. No momento, há uma corrida desesperada tanto para transportar cilindros de oxigênio na própria capital como para importar o insumo até via fluvial de outras partes do país. Enquanto isso, tenta-se transferir pacientes estáveis para outros Estados.

Ao longo do dia, o médico do HUGV, que preferiu não se identificar, contava que todos os pacientes lá internados deveriam receber uma fração mais baixa de oxigênio, uma vez que os estoques só eram suficientes para cobrir oito horas. No Instagram, o médico intensivista Anfremon D’Amazonas, que também trabalha no Hospital Getúlio Vargas, contou a operação hercúlea montada para tentar salvar os pacientes apesar da falta de O2. Primeiro colocaram todos de bruços (pronar, no jargão médico), para melhorar a oxigenação. Depois, a corrida para trazer pequenas quantidades de oxigênio usadas em outros setores do hospital. “A gente conseguiu salvar quem dava, quem podia”, lamentou.

No Serviço de Pronto Atendimento (SPA) e na Policlínica Dr. José de Jesus Lins de Albuquerque, na zona centro-oeste da cidade, a busca por transporte de cilindros de O2 mobilizou famílias de pacientes internados e até mesmo policiais, convocados para reforçar a segurança em frente às unidades de saúde. Há relatos de familiares que pagaram do próprio bolso para garantir oxigênio oas doentes. No SPA do Coroado, no leste, ao menos dois pacientes morreram à espera de atendimento.

Por Steffanie Schimidt

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