Fiocruz alerta do risco de flexibilização no momento de maior circulação de vírus

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Os anúncios de flexibilização das medidas de isolamento contra a Covid-19, feitos em vários estados, estão ocorrendo na época em que há maior circulação de vírus respiratórios no país, segundo séries históricas do InfoGripe, sistema de monitoramento da Fiocruz.


Avaliando os dados dos últimos anos considerados “regulares” (período de 2010 a 2015 e o ano de 2017), a incidência de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), que está associada à circulação dos vírus respiratórios, costuma ser maior exatamente nesta época na maior parte do país.

A incidência representa o número de casos de uma doença para cada 100 mil habitantes de uma determinada região.


Para entender padrões de circulação de vírus respiratórios, o país é classificado em quatro “regionais”: norte, sul, central e leste. Os períodos de maior ou menor circulação coincidem com características climáticas, explica Marcelo Gomes, coordenador do InfoGripe.


Mapa mostra as regiões do Brasil de acordo com os padrões de circulação de vírus respiratórios, segundo a Fiocruz.


“Como tem um país continental, tem perfis climáticos diferentes. Se a gente olha o mapa climático do Brasil, consegue fazer uma divisão territorial que é similar ao que vê com base no perfil de circulação de síndromes respiratórias agudas graves”, esclarece.


Foto mostra um coco na praia da Barra da Tijuca enquanto duas pessoas caminham na areia no Rio de Janeiro em meio à pandemia de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, no dia 27 de maio. — Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Foto mostra um coco na praia da Barra da Tijuca enquanto duas pessoas caminham na areia no Rio de Janeiro em meio à pandemia de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus, no dia 27 de maio. — Foto: Ricardo Moraes/Reuters


Conforme esse padrão, na regional leste, a incidência de SRAG começa a aumentar de meados para final de abril (semana epidemiológica 17) e só começa a cair de meados para final de junho (semana 25), para ter uma queda maior em meados de julho (semana 29).

A semana epidemiológica é uma convenção usada internacionalmente que vai de domingo ao sábado de uma determinada semana. Nesta segunda-feira (1º), o Brasil está no segundo dia da semana epidemiológica 23.


Isso significa dizer que, na prática, os estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará ainda estão no meio da época de maior incidência de SRAG (veja gráfico).


Gráfico mostra a incidência de SRAG para a Regional Leste (Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará) em 2015. Na região, a incidência de SRAG começa a aumentar de meados para final de abril (semana epidemiológica 17) e só passa a cair de meados para final de junho (semana 25). — Foto: Reprodução/InfoGripe Fiocruz

Gráfico mostra a incidência de SRAG para a Regional Leste (Espírito Santo, Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará) em 2015. Na região, a incidência de SRAG começa a aumentar de meados para final de abril (semana epidemiológica 17) e só passa a cair de meados para final de junho (semana 25). — Foto: Reprodução/InfoGripe Fiocruz


Apesar disso, já houve sinalizações de abertura por governos e prefeituras da região. Em Pernambuco, o governo decidiu, no domingo (31), que não vai renovar a quarentena no Grande Recife. Na Bahiavárias prefeituras decidiram reabrir os comércios a partir desta segunda ou estudam a medida. Outras já haviam feito o mesmo.

Retomadas semelhantes também foram determinadas ou são planejadas no Rio Grande do Norte, no Espírito Santo e no Ceará, onde comerciantes furaram o bloqueio total (lockdown) no sábado (30). O estado é o terceiro com maior número de casos no país, segundo levantamento do Ministério da Saúde.


15 de abril: na foto, homem com máscara de proteção para a Covid-19 passa por grafite de duas pessoas se beijando de máscara em Salvador. — Foto: Antonnelo Veneri/AFP

NESSES ESTADOS, EXPLICA GOMES, A MAIOR CIRCULAÇÃO DOS VÍRUS ESTÁ ASSOCIADA NÃO AO FRIO, MAS À MAIOR QUANTIDADE DE CHUVAS. “NO NORTE, NORDESTE, É MAIS LÓGICO, NA VERDADE, FALAR DE ESTAÇÕES EM PERÍODO CHUVOSO E PERÍODO NÃO CHUVOSO, E NÃO DE INVERNO E VERÃO”, DIZ.

Sul e Sudeste


Já na regional sul, que engloba os estados do Sul, São Paulo e Minas Gerais, o momento de maior incidência de SRAG ainda está no início: ela começa a ter mais casos entre meados e final de maio (semana 21) até os dias entre o final de julho e início de agosto (semana 31).

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