Policial é acusado de ver telefones em BO's e mandar nudes para mulheres


Vítimas se encorajaram a falar sobre o crime após relato de uma vendedora ao G1, que denunciou o policial por estuprá-la dentro de delegacia em Guarujá, litoral paulista. Jovem relatou que policial a chamou para uma sala dentro da delegacia e chegou a passar a mão nela em Guarujá, SP

Após o relato de uma jovem de 23 anos acusando um policial civil por estupro dentro de uma delegacia de Guarujá, no litoral de São Paulo, mais três mulheres procuraram a polícia e contaram ao G1 que sofreram assédio, de variadas formas, por parte do mesmo suspeito. O crime ocorria, segundo elas, durante o registro do boletim de ocorrência, dentro de uma sala do Distrito.

Todas as vítimas descrevem as mesmas características do policial: alto, moreno e um pouco forte. A forma como ele as abordou, segundo relatam, também foi parecida.

Por medo, as mulheres preferem não se identificar. Entre elas, está uma professora de 41 anos que relata situação semelhante em agosto de 2018, quando levou uma amiga vítima de agressão para registrar boletim de ocorrência. “Estava chovendo e ela me pediu ajuda. Saí da academia e fui direto levá-la, com a roupa que estava e apenas como motorista”, relata.

Após o policial registrar o depoimento da amiga, ele pediu que a professora entrasse na sala. “Aí eu falei que não era testemunha de nada e apenas havia ido acompanhá-la. Ele falou ‘mesmo assim pode entrar’. Lá dentro perguntou meus dados pessoais, inclusive o endereço e eu dei, achei que era procedimento. Ele abriu uma foto no Google Maps, mostrando onde eu morava?”, diz.

Depois disso, a professora relata que o homem enviou fotos do pênis em seu celular, afirmando que estava excitado. “Eu não o respondi. No dia seguinte, mostrei a uma amiga, que disse ter ido à delegacia após receber ameaças do namorado e que estava passando pela mesma situação com este policial e que ele havia pegado o número dela no registro da ocorrência”, afirma.

“Se ele fez comigo e fez com ela, imagina com quantas mais não fez. Em um churrasco da faculdade, conheci uma mulher que trabalhava na delegacia e contei para ela, que respondeu: ‘você não é a primeira, ele faz isso com várias, já recebemos várias queixas e ninguém toma uma providência’, agora a verdade está vindo à tona”, diz.

Assédio

Já uma consultora de negócios, de 31 anos, relatou ao G1 que no fim de 2018 estava com o marido na delegacia para registrar um boletim de ocorrência após cair em um golpe pela internet.

“Ele pegou o nosso depoimento em uma sala e perguntou se foi pelo celular que troquei mensagem com o golpista. Pediu o aparelho para imprimir as conversas. Eu deixei, estava em uma delegacia, achei que era procedimento. Mas ele demorou um bom tempo com o meu celular”

Após entregar os aparelhos celulares, o policial teria informado que pegaria os depoimentos do marido e da esposa, separados. “Na parte do meu marido, ele me colocou em uma sala ao lado. Mas quando eu entrei, ele pediu que ele esperasse lá fora. Nisso, começou a falar que eu era muito bonita, se meu marido me aguentava, se eu já tinha traído ele…”, diz.

A consultora afirma que o policial começou a dizer coisas obscenas e que ela ficou sem reação. Relata também que tentou cortar o assunto, mas ele insistia, até que a liberou. “Pensei em gravar a conversa, mas não deu tempo. Como eu não tinha provas, peguei minhas coisas e fui embora”.

A situação foi parecida com uma funcionária pública, de 37 anos, ao denunciar uma conta cobrada indevidamente pelo seu aplicativo do banco. “Ele me levou para uma sala e pediu para ver o aplicativo. Eu dei o celular para ele, só que ele começou a olhar minha galeria e meu WhatsApp”, diz.

Enquanto ele registrava a ocorrência, segundo relata, o policial começou a perguntar se ela era casada e tinha filhos, além de dizer que ela era muito bonita. “Começou a falar muitas vezes que eu era bonita e passou a mão por dentro da calça, passando a mão no órgão genital dele e afirmando não conseguir se concentrar”, diz.

Ela relata ter sentido medo por estar sozinha na sala. “Dentro da delegacia, o mínimo que você espera é ser protegida. Ao assinar o boletim, ele pegou na minha mão e eu falei ‘moço, para, por favor’. Nisso, levantei e ele falou ‘você é muito gostosa, não consegui nem me concentrar’. Contei para minha mãe e ela disse que a minha calça era muito justa. Até quando a mulher será culpada por atos como esse?”, finaliza.


Primeira denúncia

As vítimas destacaram que se sentiram encorajadas a denunciar depois que viram o testemunho ao G1 de uma vendedora de 23 anos. Em entrevista, a jovem havia relatado que compareceu ao distrito para notificar o encontro do seu celular, que estava perdido, e desbloquear o aparelho. O policial teria acessado fotos íntimas da vítima sem permissão e a obrigou a tocá-lo.

A jovem relata que, dentro do ambiente, o policial afirmou que tinha acessado a galeria de imagens dela e visto suas fotos íntimas. O agente teria dito a ela palavras obscenas, passado a mão nela e a obrigado a tocá-lo.

A vendedora conta que saiu da delegacia abalada e chorando. Ao parar em um ponto de ônibus próximo ao local, encontrou uma amiga que a incentivou a relatar o ocorrido ao delegado. O agente nega os fatos, mas o caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil.

“Espero que ele pague por tudo que fez a todas essas mulheres. Merecemos respeito e não vai ser um babaca como esse que vai nos calar. Estou com muito medo do que ele pode fazer agora, mas isso não pode ficar impune”, destaca a jovem.

Polícia Civil

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) havia informado que a denúncia foi registrada pela Delegacia Sede do Guarujá e encaminhada à 6ª Corregedoria Auxiliar de Santos, que apura todas as circunstâncias relacionadas aos fatos. O G1 questionou a SSP sobre os novos relatos, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem.

Vítimas relatam que policial agia na Delegacia Sede de Guarujá, SP



G1

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