Instituições de ensino superior oferecem serviços gratuitos para idosos


Instituições de ensino superior da capital do país prestam um rico serviço à terceira idade, oferecendo, gratuitamente, atividades que beneficiam o corpo, a mente e as emoções. Capacitação para inclusão digital, atividade física, roda de conversa com apoio psicológico e alfabetização são apenas alguns exemplos de tarefas que estudantes de faculdades, centros universitários e universidades colocam em prática para proveito de idosos. De acordo com Thiago Póvoa, presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia do Distrito Federal (SBGG-DF), esse tipo de iniciativa é fundamental. “São serviços muito necessários. Do ponto de vista de quem envelhece, esse estímulo é muito importante”, avalia.
O valor de iniciativas do tipo tem base em duas principais necessidades de todo ser humano, incluindo os idosos: a de manter a mente ativa, aprendendo, e a de socializar. “O cérebro é um órgão que, assim como os músculos, sofre atrofia, perde capacidades se não for muito usado”, destaca. Segundo o geriatra, que trabalha em instituições como o Hospital Brasília e Hospital Sírio-Libanês, a convivência comunitária é outro ingrediente indispensável para a qualidade de vida dos idosos. “Diversos estudos mostram que as pessoas com mais longevidade têm em comum a vida em comunidade”, diz. “O acesso a essa vivência pode se dar pela família, por instituições religiosas ou outras, até projetos em grupo desenvolvidos em faculdades para promover saúde, ludicidade, atividade física, formação, disseminação de conhecimento”, comenta.

Envolvimento social

De acordo com o IBGE, a depressão é um dos males emocionais que mais atinge os idosos: os brasileiros de 60 a 64 anos representam a faixa etária com maior proporção de pessoas acometidas com a doença (11,1%), entre os 11,2 milhões de brasileiros diagnosticados com depressão. Trata-se da parcela da população com maior índice do problema. A taxa de idosos deprimidos tem aumentado ao longo dos anos, o que reforça a importância de que a população com mais de 60 anos se engaje em atividades que permitam convívio social — caso das oferecidas por instituições de ensino.
Nesses projetos e grupos, a interação, inclusive, não é somente com outros idosos, mas também com jovens, adultos e pessoas de todas as faixas etárias, pois quem organiza e ministra as atividades são estudantes, professores e profissionais. O geriatra Thiago Póvoa analisa que o maior prejuízo aos idosos que se negam a participar de atividades do tipo é o isolamento social. “A pessoa acaba se distanciando, seja de familiares, seja de amigos. Ao não buscar o contato com outros, deixam de ser amáveis, se isolam, se retraem e ficam sem estímulo”, pondera. “E isso abre portas para doenças como depressão, deficit de memória, mal de Alzheimer.” Na avaliação do médico, para que os idosos passem a ser mais abertos, é importante que a sociedade se conscientize do valor deles.
“Existe uma série de limitações que são inerentes ao estado clínico do idoso. Os velhinhos até dizem que quem inventou o conceito de ‘melhor idade’ é um canalha. A verdade é que, sim, existem restrições, mas o que a família, os amigos, o grupo social e a sociedade devem deixar claro é que ser velho é legal”, defende. “Tem muita atividade legal que a gente pode fazer. E o estímulo da comunidade é fundamental para isso. É preciso ter uma comunidade que goste de receber o idoso.” Thiago Póvoa argumenta que essa boa recepção deve ser encontrada em todos os idosos, das calçadas aos restaurantes, das igrejas às instituições de ensino. “Inclusive, no que diz respeito às universidades, elas precisam ser mais abertas ao saber da terceira idade. Eles têm muito o que passar, muito a dividir.”

Longevidade em alta

O aumento da longevidade humana é uma das maiores conquistas dos avanços científicos. A expectativa de vida do brasileiro é de 76 anos, enquanto a dos brasilienses é de 78 anos. E esses números só devem crescer à medida que o país se desenvolve e aumentam os cuidados com saúde e bem-estar. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) calcula que existam cerca de 30 milhões de idosos no país — equivalente a toda a população de nações como Angola e Gana. A quantidade de pessoas na terceira idade avança a passos largos tanto aqui quanto no mundo. A OMS estima que, até 2050, os idosos chegarão a ser 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, equivalente a um quinto da população mundial.

Conheça iniciativas de desta

Para evitar quedas
Quem avista a quadra esportiva do Centro Olímpico da Universidade de Brasília (CO/UnB) durante o horário em que são ministradas as turmas de circuito de equilíbrio pode não se dar conta, num primeiro olhar, de que os alunos que se movimentam ali com o maior vigor já passaram dos 60 anos. À frente do grupo, está a professora Juliana Nunes de Almeida Costa, que iniciou essas aulas gratuitas em 2008, com o objetivo de aumentar a confiança e reduzir o risco de quedas.
Participantes como Paulo Romano, 89 anos, e Nilza Castro, 76 anos, são só elogios para a atividade. “Eu sinto a diferença. Antes, eu ficava sem confiança em movimentos que exigem maior equilíbrio, como subir ou descer uma escada, apanhar alguma coisa no chão ou no alto, ou até caminhar”, comemora Paula Nilza é veterana na atividade do CO/UnB. “Esta é a terceira vez que participo. Eu sempre me sinto muito bem nas aulas. Prefiro o circuito do que a academia, por ser ao ar livre, ter mais interação com outras pessoas e muita alegria. Eu sou fã número um da professora Juliana”, declara a paulista, que tem um filho e três netos. Tanto ela quanto Paulo são alunos muito assíduos, algo importante para se manter na atividade. “Tem fila de espera, quem falta e não justifica pode perder a vaga”, observa Juliana. O sucesso da turma se dá pelo fato de o circuito envolver as três esferas necessárias ao se trabalhar com idosos. “É preciso atuar nos aspectos bio, psico e social. Se você disser para o idoso vir aqui treinar só o físico, ele vai sair correndo”, brinca.
Desde 2008, mais de 1 mil participantes passaram pelo circuito na UnB. Educadora física pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em educação física e doutora em ciências da saúde pela UnB, Juliana criou o projeto durante pesquisa de mestrado e o expandiu durante o doutorado — quando o levou para instituições como Sesc (Serviço Social do Comércio) e Rede Sarah de Hospitais de Reabilitação. Juliana mantém o projeto por pura paixão. Após terminar o doutorado, ela voltou para a UnB, como professora voluntária, sem ganhar um centavo, a fim de dar continuidade ao circuito de equilíbrio. Interessados na atividade podem entrar em contato pelo telefone 3107-2557. Turmas são abertas semestralmente no CO/UnB.
O valor do apoio psicológico
A goiana Suely Pedro Veras, 65 anos, está entre as participantes de roda de conversa entre idosos promovida por alunos e professores de psicologia do Centro Universitário Iesb. A atividade ocorre no Câmpus Oeste, em Ceilândia. “Eu vim encaminhada por psiquiatra por sofrer de depressão”, conta Suely. Há três anos, ela começou a ter sessões de atendimento individual com estudantes de psicologia da instituição. “Depois de dois semestres, pensei: ‘estou bem, vou dar oportunidade para outros’. Então, vim para o grupo, que é muito bom”, elogia. “O mais bacana é a experiência de vida de cada um. Tem dias em que chego aqui e penso que meu problema é o maior do mundo, mas ouvindo os outros, vejo que não é, aprendo com os outros.”
Atualmente, há duas turmas em funcionamento, cada uma com cerca de 20 participantes. Quando há lista de espera, a turma pode chegar a 25. Um grupo é às terças pela manhã; o outro, nas sextas, também pela manhã. A atividade dura duas horas. A professora de psicologia do Iesb Greici Cerqueira observa que “o objetivo do grupo é promover a saúde a partir da sociabilidade, da formação de vínculos e do encontro desses idosos que, muitas vezes, se sentem inúteis e incapazes”. Ela destaca que há muitas situações de vida que essas pessoas não têm com quem compartilhar e elas encontram no grupo um lugar seguro para trocar ideias e desabafar. “O grupo de idosos foi pensado, principalmente, para o desenvolvimento de vínculos e pensando em atividades que possam desenvolver depois da aposentadoria”, diz a coordenadora Hannya Herrera.
A cada semestre, formandos do Iesb conduzem a atividade. “A gente começa os encontros fazendo uma dinâmica. Depois, sugere um assunto de discussão. É na troca e na conversação que acontece aprendizagem”, explica Maria Genuína Oliveira Batista, 57 anos, aluna do 10º semestre de psicologia.  As turmas da roda de conversa são abertas a cada semestre. Confira mais informações pelo telefone 3340-3747.


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