Caciques da velha política ensaiam aproximação com Bolsonaro


Em busca de sobrevivência, os caciques que não se reelegeram começam a se articular rumo ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). O capitão da reserva é apontado nas pesquisas como o favorito no segundo turno — no levantamento do Datafolha, ontem, alcançou 59%, contra 41% do petista Fernando Haddad (Leia matéria abaixo). Durante a campanha, Bolsonaro disse que não distribuiria cargos aos velhos políticos. Ainda assim, pode acabar se rendendo ao habitual “toma lá, dá cá”, em busca de governabilidade.

Um dos interessados em ajudar nessa tarefa é o ministro Gilberto Kassab, da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, do PSD. Embora oficialmente o partido, que apoiou Geraldo Alckmin (PSDB) no primeiro turno, tenha liberado os diretórios, Kassab foi pessoalmente atrás da equipe de Bolsonaro para avisar que está com ele. Dois dias após o resultado do primeiro turno, o ministro jantou com o deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para tratar do assunto. Lorenzoni é braço direito e principal articulador de Bolsonaro, já praticamente garantido como ministro da Casa Civil em um eventual governo do capitão.

A liberação do PSD é explicada pelo mesmo sentimento que leva alguns políticos a procurar Bolsonaro no segundo turno: em alguns estados, eles se aliam ao PT, que tem mais votos. Esse é o motivo pelo qual o PR também liberou a bancada, mesmo sabendo que caciques da sigla, como Valdemar Costa Neto, torcem pela vitória do capitão. “Na Bahia, por exemplo, o partido não vai apoiar o Bolsonaro por uma razão singela: o PR da Bahia é PT, porque é o mais forte de lá”, disse uma pessoa próxima a Valdemar. O ex-deputado e comandante do PR, condenado no Mensalão, acena para o PSL com promessa de fidelidade em troca de apoio para a candidatura de Capitão Augusto (PR-SP) à Presidência da Câmara dos Deputados.
O mesmo ocorre com o PTB, do deputado cassado Roberto Jefferson, que foi rápido ao garantir apoio ao presidenciável no segundo turno. As negociações com o atual governo quase renderam à filha dele, a deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ), o Ministério do Trabalho. Agora, ele faz intensas campanhas pró-Bolsonaro nas redes sociais.
Também entra na lista dos articuladores o presidente nacional do MDB, senador Romero Jucá (RR). Todo-poderoso em todos os governos durante décadas — de Fernando Henrique Cardoso, passando por Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel Temer — e sem ter conquistado a reeleição, Jucá tem marcado encontros em Brasília a fim de se manter no próximo governo. “Ele quer sobreviver. Entende muito de política e de regimento, sabe articular e consegue fazer as coisas acontecerem com um raro perfil conciliador que é eficaz”, explicam aliados. Não há indícios de que o senador tenha procurado a equipe de Bolsonaro, mas, para os conselheiros mais próximos, pode acontecer. “Ele vai encontrar uma saída.”
O pastor Everaldo, presidente do PSC, é outro que se aproximou do capitão reformado no segundo turno. As legendas negam condicionar apoio a Bolsonaro em troca de cargos. O suporte está em linha com os pensamentos defendidos pelo candidato, diz um interlocutor do PSC. “Temos princípios que se assimilam às ideias dele, e não de Haddad. Da nossa parte, não houve negociações de cargos. Se algum de nossos filiados for escolhido para ocupar um cargo, será por competência e profissionalismo”, ponderou.

Políticos profissionais

Para o professor de ciência política da Universidade Estadual de Goiás (UEG) Guilherme Silva Prado, “essa movimentação é latente entre os políticos profissionais, cuja ideologia se alinha com qualquer governo, desde que haja um cargo à sua espera”. O especialista acredita que ex-parlamentares, ex-governadores e presidentes de partidos terão chance de colher os frutos de acordos bem fechados. “O governo precisa de aliados. Isso é aliança, articulação de bastidor”, detalhou.
Um dos coordenadores da campanha de Bolsonaro, Coronel Tadeu (PSL-SP) admite que o partido busca apoio de outras bancadas. Mas assegura que as conversas se dão no campo de propostas e ideias em comum. “O apoio é bem-vindo. Não ficaremos sozinhos nunca. Mas as conversas vão se dar em alto nível, não no ‘toma lá, dá cá’”, declarou. Ciente do interesse de mandachuvas de outras legendas, o PSL traça uma estratégia para evitar passar uma imagem que desagrade aos eleitores. A tática é articular apoio com a base das legendas e evitar o contato com caciques, como Valdemar e Jucá. “Há políticos honestos que se identificam conosco, e iremos dialogar. Vamos deixar muito líder batendo cabeça e falando com as paredes. O fisiologismo não terá vez”, garantiu Tadeu.

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