ENTRA DE TUDO NOS PRESÍDIOS DA PARAÍBA



Mais de 9 mil objetos proibidos foram recolhidos dentro de presídios da Paraíba nos últimos dois anos, o que representa uma média de 12 apreensões diárias. Só em 2017, foram 4,6 mil, a exemplo de facas, espetos, celulares, drogas. Os dados de 2018 ainda não estão disponíveis, mas em apenas uma varredura realizada no último dia 16, os agentes encontraram 59 facas e espetos artesanais, 90 gramas de maconha e 110 gramas de cocaína com detentos da Penitenciária Padrão, em Campina Grande. Os achados incluem ainda exemplares curiosos, como um rádio-celular escondido dentro de uma cebola, flagrado com a companheira de um preso durante a revista, no Presídio do Roger, em João Pessoa, na manhã do último domingo.

As situações demonstram que apesar de todo o esquema de segurança, que envolve agentes penitenciários com apoio de equipamentos tecnológicos, como os detectores de metais, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) não consegue evitar a entrada de armas, drogas, celulares, chips, carregadores e materiais para confeccionar facas e espetos artesanais nas unidades prisionais.

Para Deusimar Guedes, psicólogo, especialista em Criminologia e Psicologia Criminal, os principais motivos para que drogas, armas e outros objetos entrem nos presídios são a sobrecarga de presos somada à carência de servidores e de tecnologia.

Na análise dele, o detector de metais ajuda a evitar a entrada de alguns objetos. Porém, tem um limite. “Dependendo de como está acondicionado o metal, pode passar, principalmente se for algo mais leve. Até arma hoje vem com pouco metal, apenas o mecanismo onde passa o projétil é feito de metal. O resto é material que o equipamento não detecta”, disse. Além disso, nos dias de visita, há gente demais para vistoriar.

Por isso, algumas mudanças urgentes são necessárias. “É preciso melhorar a tecnologia, que ainda é muito precária. O pior de tudo isso é exatamente o número de presos bem acima da capacidade na maioria dos presídios, com o dobro e até mais presos e poucos agentes para trabalhar, E ainda têm os casos de corrupção, de servidores do sistema que facilitam”, observou.

Objetos são arremessados

Não há dificuldade para entrar com drogas, em pequenas quantidades, nos presídios. “É muito fácil e essas drogas não entram só com as visitas. A maioria dos presídios brasileiros está em áreas urbanas, não são bem vigiados e as drogas são arremessadas ou levadas por drone. A fiscalização é precária e a instalação inadequada”, disse Deusimar Guedes.

A produção de armas, segundo ele, muitas vezes acontece com objetos de metal usados na enfermaria, na cozinha, que são desviados e facilitam a confecção. “Qualquer política de segurança pública que se queira fazer no Brasil, tem que começar pelo sistema penitenciário, com presídios mais eficientes.

“O presídio tem duas finalidades, interromper a atividade criminosa do infrator e ressocializar. Não interrompe, porque o presídio é o grande escritório do crime, é uma instituição falida, onde os grandes crimes são arquitetados. E também não conseguem ressocializar”, constatou.

Para os presos que querem apenas cumprir a pena e sair da cadeia, a situação também é complicada.

“Eles têm que optar por uma organização qualquer para não serem molestados, agredidos, mortos. Pagam com serviços, com drogas que as famílias acabam sendo obrigados a levar. Se não tiver dinheiro, paga com a filha para práticas sexuais. Quem manda nos presídios são as organizações criminosas. Fora do presídio, selam compromissos, terminam não cumprindo e são assassinados. Por isso, muitos ex-presidiários são assassinados”, completou.

Seap: fiscalização contínua

As fiscalizações são frequentes nos presídios paraibanos, mas, de acordo com a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap), é uma prática comum alguns visitantes utilizarem o artifício de esconder ilícitos no meio da alimentação. Por isso, há uma fiscalização constante desse tipo de material.

Confirmando a afirmação de Deusimar Guedes, o secretário executivo da Secretaria de Administração Penitenciária, João Paulo Ferreira Barros, que também está à frente da Gerência do Sistema Penitenciário (Gesipe), afirmou que, além dessa modalidade, atualmente, existem muitas tentativas de arremesso de materiais para o interior das unidades.

“A fiscalização é permanente e realizada através de equipamentos eletrônicos, como bag scan (de bagagem), detectores de metal dos tipos raquete e banquetas”. E João Paulo Ferreira Barros garantiu que as vistorias são feitas diariamente e intensificadas em dias de visitação em todas as unidades prisionais do Estado.

O procedimento é feito pelos agentes penitenciários e, em determinadas situações, com o apoio dos grupos especiais como Grupo Penitenciário de Operações Especiais (GPOE), a Força Tática Penitenciária (FTPEN) e o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar.

“Todos os objetos apreendidos são devidamente catalogados e naqueles que têm sua propriedade identificada, são realizados os procedimentos de praxe, no sentido de tipificar a conduta como sendo infração penal”, concluiu João Paulo Ferreira Barros.


Correio da PB

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